Memoria en Porto Alegre
A inicios del mes de abril en Porto Alegre abrió sus puertas el Museu de Direitos Humanos do Mercosul, yo llegue allí por un llamado hace muchos meses de su director Marcio Tavares. Este joven futuro director del nuevo Museo me llamo allá por octubre 2013 para invitarme a participar en la muestra de inauguración del Museo, el y el director del MARGS (Museo de Rio Grande do Sul) Gaudencio Fidelis, habían visto mi trabajo de Ida y Vuelta en el Memorial de Rio Grande en un desembarco de la cultura uruguaya en Porto Alegre, el equivalente del desembarco de la cultura gaucha que se vive estos días en Montevideo ya que diversos artistas del norte nos visitan.
Decía entonces que Marcio, me pedía que participara con esa obra y algo más que había visto de mi trabajo diez años antes en la IV Bienal del Mercsour....le comente que en mi pagina web podía ver algunas otras cosas y que después de verlas conversaramos. En ese época, ya hacía un tiempo que tenía la historia del secuestro de Lilián Celiberti de finales de los 70 rondandome la cabeza, si bien la historia la conocía y a Lilián misma la conocí en nuestro exilio en Europa ya que militamos juntos unos años antes, en la web de cotidiano mujer yo había descubierto una entrevista de Lucy Garrido (que luego fué un libro) donde Lilián relataba su secuestro y su prisión. Al mismo tiempo había algo que me intereso mucho y es esa especie de pulseada que se da con sus secuestradores que casi seguramente podían haber sido sus asesinos si ella de alguna manera no lograba desarticular ese secuestro que estaba viviendo.
La conversación con Lucy Garrido era en un tono como cotidiano y "normal" como si pudiera haber un tono "normal" para hablar de la vida y la muerte, pero bueno ese tono y luego esa especie de desafío al que se lanza Lilián cuando convence a sus secuestradores de que la lleven a Brasil de nuevo haciendoles ver la posibilidad de otros secuestros mientras ella planeaba como lograr que su detención fuera conocida por sus compañeros y denunciada a tiempo, unica manera de ganarle a la muerte ya que los asesinos y torturadores si a algo le temen es a la publicidad, hacen algo que quieren que permanezca oculto.
Con esas cosas estaba en la cabeza entonces, cuando Marcio me volvio a llamar proponiendome de incorporar algunas obras mas a mi envio para la exposición, alli le propuse de que hicieramos algo con la historia de Lilián, tal vez simplemente volver a contarla, que su historia llegue a los jovenes que tanto en nuestro país como Brasil no vivieron esa época y por tanto no saben.
Allí surgió el trabajo "Lilián, una mujer sola frente al cóndor", que se sumó al resto de trabajos que serían expuestos; "Miradas ausentes", "de ida y vuelta", "Uruguay, memoria para armar" y "De eso no se habla". Todos estos trabajos estan expuestos al día de hoy en el bello Museo de los Derechos Humanos del Mercosur en pleno centro de Porto Alegre en la Praça da Alfândega.
El trabajo sobre Lilián, esta compuesto de una larga entrevista-video de hora y media que registramos en el MUME (Museo de la Memoria de Monrtevideo) y una serie de fotografías de Lilián con sus hijos Camilo y Francesca cuando eran pequeños y otras fotos con sus hijos pero de hoy. A estas fotos le sumé unas imagenes que compuse sobre las cartas que Lilián lograba entregar clandestinamente a su madre cuando ella conseguía vistarla, en el momento de darle un beso le entregaba unos pequeños papeles metálicos, sacados de los paquetes de cigarrillos y en ellos Lilián escribía con alfileres largas cartas con las que lograba evadíir asi la censura. Esas cartas me parecen hoy, objetos que cuentan las resistencias de tantos y de tantas, tantas madres como la mamá de Lilián que arriesgaban su vida y su libertad para sacar esas pequeñas obras maestras de la resistencia.
Este trabajo espero exponerlo el año proximo en Uruguay, mientras tanto, luego que finalice la exposición el el Museo de los Derechos Humanos del Mercosur todos mis trabajos pasarán a formar parte del acervo del museo Margs que queda enfrente en la misma en la Praça da Alfândega, y es uno de los mejores museos de la región.
Sobre mi trabajo, el director del Museo Márcio Tavares escribió un texto que encuentro muy interesante y que quiero publicar aquí, aunque no esta en español sino en portugues creo que vale la pena leerlo en la lengua en la que fué pensado y escrito.
Memória e resistência:
Juan Angel e a criação de Lilián Uma Mujer Sola Contra El Condor
A instalação realizada por Juan Angel Urruzola para a inauguração do Museu dos Direitos Humanos do Mercosul (MDHM) está marcada pelo conceito de resistência. Através de um vídeo testemunhal e de registros fotográficos que dão suporte à obra cinemática, o público é confrontado com a história de Lilián Celiberti em sua luta pela democracia durante o período ditatorial e por sua trajetória em busca de justiça no presente. Deste modo, a construção da obra é formada por um duplo sentido de resistência: o da resistência ao esquecimento e o da resistência política em nome da liberdade.
Em todo o trabalho de Urruzola há um desejo de documentar ausências e rupturas que se transformam em metáforas visuais do percurso histórico recente da América do Sul. É a perspectiva documental do artista que orienta o desenvolvimento do vídeo sobre Lílian através da linguagem do testemunho. Na tela há um encontro entre a personagem e sua história, nada mais. A força de tudo o que foi vívido dispensa a necessidade de acrescentar efeitos que poderiam se sobrepor ao narrado. O encantamento do público, do mesmo modo, é resultado da empatia gerada pela narrativa que se conta, a qual ao longo do vídeo se evidencia como um microcosmo de nossa história recente.
Portanto, a leitura do vídeo de Urruzola poderia ser realizada como a apresentação de uma biografia coletiva. Não há a tentativa de demonstrar o extraordinário. Ao contrário, ao escolher o cenário, somos conduzidos a entender a excepcionalidade de uma história carregada de humanidade.
A obra de arte está, por vezes, na força do depoimento. A narrativa testemunhal é um rompimento com os paradigmas artísticos canônicos de atribuição da qualidade estética. A eficiência artística da narrativa está na constante luta entre o dito e o silenciado, pela dificuldade em contar os acontecimentos e pela experiência limite da proximidade com a morte. Juán Angel Urruzola, também um militante que esteve exilado durante a ditadura uruguaia, utiliza a câmera como meio de expressão. Vive e pensa através das lentes que produzem a fotografia e o vídeo e suas obras são um discurso histórico construído pela imagética.
A obra desenvolvida no MDHM é uma constante emergência de ausentes, pois a história de Lilián pode ser compreendida também como uma biografia coletiva. A construção da narrativa é marcada pela vivência em grupo e a potência do relato está na relação entre o individuo e a história. Lilián Celiberti, deste modo, torna-se a corporificação da Operação Condor. Assim, um relato que usualmente se encontra desencarnado da vivência humana, é apresentado por meio do depoimento sobre seu sequestro e de sua família em Porto Alegre. Há plenitude de humanidade. Mas, há também decisão de dar visibilidade e legibilidade para a maquinaria de repressão e violência organizada pelas ditaduras para silenciar – em todos os sentidos – seus opositores.
A confissão do vivido materializa uma busca coletiva por memória e pela reparação aos horrores passados. A obra recomenda ainda um encontro da estética com a ética. Contudo, a imposição da ética, não significa a perda da qualidade estética. Ao contrário, em um mundo cada vez mais dominado pela estetização da política, Urruzola propõe a politização da estética. Logo, há um embate entre a persistência de uma memória coletiva com o predomínio social da amnésia, gerado pela pulsão de consumo da sociedade pós-industrial.
O conjunto da instalação apresenta um universo de sensibilidades que presentifica a o passado. Ao lado do vídeo, está inserido um conjunto de fotografias que forma um verdadeiro álbum de memórias. São fotos do universo familiar: seus filhos durante seu exílio em Roma e Lilián junto deles na atualidade. Também, são expostas duas fotografias das cartas que ela escrevia para sua mãe durante o período da exposição. A sensibilidade do conjunto emociona.
Mas, não há espaço para o sentimentalismo vazio no edifício de memória construído por Juán Angel Urruzola. O dever de memória, claro na obra do artista, não está submetido ao pedagogismo que filtra as multiplicidades de sentido em nome da orientação política ou da publicidade mercantil. Rolland Barthes afirma que o faz da fotografia uma arte é sua aproximação com o teatro. Pois, o teatro primitivo seria conhecido por seu culto aos mortos e a fotografia torna-se uma reminiscência disso, uma vez que ao ver uma foto tem-se um encontro direto com os mortos.
Deste modo, a força artística da fotografia não está na obviedade da imagem, mas em seu processo de construção. As fotos da Lilián encerram uma narrativa pluralizada. Dentro delas constitui-se essa multiplicidade de sentidos. As cartas clandestinas estão carregadas de emoção, porquanto elas demonstrem que a prisão do corpo não significa um apequenamento da alma. A escrita, com agulhas nas costas de papéis de cigarros, em letra diminuta de relatos para seus familiares são uma grande demonstração de amor e resistência ao arbítrio. A foto de Lilián com seus filhos Camilo e Francesca e sua foto nos jardins do Museu da Memória de Montevidéu são uma afirmação da mulher e da mãe frente ao desejo de aniquilamento de sua subjetividade pelo terrorismo de Estado.
Em um contexto pós-traumático como os países do Cone Sul, a arte é um vetor de construção de uma memória crítica. As demandas por memória e reparação ocorrem sempre no limite da apropriação política da dor dos outros. A decomposição do tempo é enfrentada pela humanidade com a construção de suportes de materialização da memória que nos tornem possível a anminese.
Juán Angel Urruzola ao colocar a biografia de Lilián Celiberti frente aos processos históricos tem plena consciência de que é preciso criar espaço para a emergência das sensibilidades e subjetividade para superar a experiência fragmentada de vida no presente. Memória e arte, portanto, se unem no trabalho não como uma via de acesso para o passado, mas uma inferência sobre as possibilidades amnésicas do presente.
Márcio Tavares
Historiador e Curador
Diretor do Museu dos Direitos Humanos do Mercosul
Las fotos de las cartas de Lilián estan sacadas delante de una pintura de Martín Mendizabal que tengo hace mucho años y que creo ayuda a poner en valor y ltambien agrega misterio a esta pequeñas obras maestras de resistencia.